segunda-feira, setembro 30, 2013

Aquilo que nunca me disseram...

... mas que um dia precisei que me tivessem dito.



Pára. Respira. 


Pára a cabeça. Não ponhas tudo em causa... por causa de um pensamento teu, por causa de algo que julgas que é "assim" mas afinal pode ser "assado", por causa de algo que tu achas que está a acontecer e pode não estar.

Pára. Deixa o mundo acontecer. Deixa-o rodar um bocadinho à velocidade e maneira dele. Não tentes empurrá-lo sozinho para o sítio ou para lado que tu achas que ele deve ir. É isso que fazes sempre.

É que quando - muito naturalmente - o mundo leva a melhor, cais por terra, culpas toda a gente, culpas-te a ti, "móis" e "remóis" e voltas a "moer". E sentes-te mal e achas a culpa não pode morrer solteira e vociferas e choras e revoltas-te contra tudo, contra todos, contra nada ou coisa nenhuma e contra ninguém em particular, excepto contra ti. Mas não paras. Nunca.

Lê um livro.

Pára. Respira. Deita-te na areia molhada da praia sem estar a pensar no que quer que seja, se fazes favor. Pega no carro, vai até à praia para te deitarares e não para pensar na vida. Vai lá porque gostas e não para fugir de alguma coisa, ou de alguém, ou dos problemas ou das tristezas. Vai lá. Tudo o resto, quando voltares, deverá estar exactamente no mesmo sítio. Se não estiver… tanto melhor!

Olha para as pessoas como sendo pessoas que tal como tu têm problemas e feitios e merdas para resolver e defeitos que nunca irás compreender ou conseguir mudar. O mundo não é perfeito. Para ninguém. E uma coisa é certa. Não é - nem nunca será, de certeza -  aquilo tudo que precisas que seja. É - e será - o mundo possível.

A vida - a tua e a de toda a gente - é a vida possível. E a tua tarefa - tal como a de toda a gente - é seres o mais feliz possível, apesar de tudo, apesar dos defeitos do mundo e das pessoas. E dos teus defeitos, também, já agora. E apesar da vida ser, de facto, difícil.

Pára. Respira.

quinta-feira, setembro 26, 2013

Uma história especialmente banal

Eles estavam os dois dentro de um impressionante Mercedes. Ela, de porta fechada, estava com ar de enfado. Ele, de porta entreaberta, limpava minuciosamente com uma flanela um grão de pó junto ao vidro. Ela chamou-o para lhe dizer alguma coisa e ele não respondeu, continuando absorto mas entusiasmado na tentativa deixar os interiores do Mercedes impecáveis. Ela - via-se - estava furiosa pelo desprezo mas lá tentou o contacto mais uma vez. Ele sorria enquanto limpava. Foi tudo em coisa de 15 segundos. Não mais. Ele só deu conta de ela ter saído do carro quando a porta do outro lado bateu com força (e, zeloso, já se virava com cara de mau para dizer-lhe que aquela "não é a porta da quinta!") Tarde demais. Ela já se afastava a passo largo. Ele ainda saiu com um pé fora do Mercedes, deixando o outro a pisar o tapete do amado automóvel. "Estás maluca?! Por eu estar a limpar o carro?! Isso são ciúmes, não são?!". Ela nem respondeu, nem sequer olhou para trás. De certeza - adivinho - que era nisto que ela ia a pensar enquanto descia a rua: bonita como é, há-de ter rapidamente um namorado com um carro utilitário, barato. Um homem que tudo fará para ter sempre o automóvel impecável ANTES de a ir buscar para sair, para ela sentir que realmente é especial. Acho que foi por isso que ainda vi um sorriso bonito aparecer-lhe na cara.