sábado, novembro 15, 2014

A historia da estória que morreu antes de nascer

Cinco letras, espaço, mais duas letras, delete, delete, delete, espaço, delete, delete… até que o cursor fica de novo a piscar no canto superior do ecrã, à espera de novo comando do humano à sua frente. Aquele que esfrega as mãos pela cara, passando-as mais devagar e com mais força pela barba, como que usando os pêlos rijos como espigões de massagem para activar a circulação nas pontas dos dedos, que logo a seguir poisam em cima das teclas de novo.

Três letras, espaço, delete, delete, delete.

Duas letras, til, letra, delete, delete, delete.

É assim tão difícil começar?!…

O cabelo! Passa a mão pelo cabelo! Costuma acalmar-te! Isso! Pela testa também! Agora, vá, força!

Seis letras, espaço, duas letras, espaço, três letra, espaço - é agora! -, sete letras, delete, delete… Não! Deixa-te ir!… Delete, delete. Selecção de texto com o rato, delete. Cursor de novo a piscar, sozinho, no canto superior so ecrã, a gozar contigo, não vês? Vai beber um café e volta. Antes isso que massacrares as teclas, que não têm culpa do que te está a acontecer. O cursor não vai parar de piscar e cá estará à tua espera, podes ter certeza. Ninguém vai a lado algum, a não ser tu, que vais beber um café. Até já!

Então, pronto? Recomposto? Vamos a isso!

Duas letras, reticências…

Esquece. Não vai acontecer. A história que contaste ontem era fantástica. A que vais escrever amanhã se calhar também será. A de hoje não aconteceu. Faz parte, dizem.

Agora vai lá fora. Não te esqueças de levar um bloco de notas e uma caneta. Olha para as pessoas, para as caras, para as nuvens, sente o cheiro do ar e da terra, inspira, expira e inspira-te de novo.

Mas antes dá-me descanso, por favor. Tal como tu, já estou farto deste cursor a piscar.

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